Autora: Brainer
Minha memória parte do trabalho da minha avó como costureira que influenciou minhas escolhas para a vida e que me fizeram perceber os impactos dessa indústria no meu território. A Maré nasceu na Baía de Guanabara, águas que recebem toneladas de produtos químicos originados da produção do jeans, peça que fundamenta a identidade visual de muitos mareenses. Reflito aqui as possibilidades de transformação desse ciclo de poluição através da educação e sensibilização dos moradores.
Minha avó era costureira e a partir disso segui no meu ensino médio a formação em produção de moda. Dentro do curso, pesquisei sustentabilidade do território mareense. Comecei a me questionar sobre as indústrias têxtil relacionadas aos incômodos sobre as mudanças climáticas do meu território.
Além de minha avó, minha outra referência é Camila Rocha, minha amiga e costureira. E o seu Anastácio, que foi alfaiate morador da Maré desde a década de 80.
Atanásio Amorim, também chamado só de Seu Atanásio, morador da Baixa do Sapateiro, nos deixou no dia 25 de abril, vítima de Coronavírus.
Entendo a minha memória com as costuras e a preocupação das indústrias de grande e pequeno porte em um descuido que degrada e polui as águas que banham o meu território e dava de sustento para pescadores da redondeza. E que para haver transformações é preciso que haja informação, que possam nos ajudar a entender a memória de quem iniciou ou movimentou esta cena dentro do complexo da maré. Acredito que a transformação parte de de uma troca de saberes e um olhar sensível para as questões ambientais.
O adoecimento da Baía de Guanabara é um processo histórico, junto de uma produção têxtil que contribui muito para esse cenário, não é possível culpabilizar pequenos produtores e a população, mas aprender com essas pessoas novas formas de utilizar e cuidar dessas peças.
Reflito como nós e as águas temos sofrido com os danos provocados pela indústria do vestuário. Obviamente, rios poluídos e tóxicos fazem mal não apenas para o meio ambiente, mas para as milhões de pessoas que vivem em seu entorno.
Muitas fábricas escondem os tubos debaixo dos rios e só descarregam sua sujeira sem ninguém saber de onde vem. E uma vez na água, os tóxicos não desaparecem ou desintegram, simplesmente continuam viajando no oceano.
E com esses processos de um descuido ambiental que gera as doenças e o distanciamento dos moradores da maré com a Baía de Guanabara e até mesmo os pescadores locais que atualmente sumiram do espaço local.
Josefa Gomes, 72 anos, natural da Paraíba, minha bisavó, viveu 45 anos na Maré. Minha memória fala sobre os ensinamentos que ela deixou, o quanto isso influencia nas mulheres da minha família até hoje e a importância de termos mulheres como ela no território.
Lea +Autora: Gabriela Silva
Lea +Autor: Arthur Rangel
Lea +Las memorias transmiten la importancia de pensar en las transformaciones ambientales que impactan nuestras vidas y, de esa forma, sensibilizan personas para que cuenten sus propias historias.
Las memorias pueden incentivar más personas para que relaten y documenten cómo los impactos han afectado sus vidas.
As memórias permitem conectar pessoas e comunidades de diferentes culturas, através de suas histórias e realidades.